Clube da Luta – Chuck Palahniuk

Fight Club (1996), é um romance escrito por Chuck Palahniuk. O livro convida o leitor a refletir sobre a sociedade de consumo e a fragilidade do indivíduo dentro dela.

O que nos define como pessoas? O que significa ser feliz? As coisas que possuímos nos fazem felizes? A violência é uma fuga dos problemas pessoais?

Essas são algumas das questões que o romance levanta. É como a “voz interior” que todos temos, um grito desesperado de “socorro” diante de uma sociedade cada vez mais materialista que destrói e isola o indivíduo da verdadeira felicidade.

Resumo do livro

O livro conta a história de um personagem, que atua como narrador e não revela seu nome em nenhum momento, cansado de sua vida pessoal e ambiente de trabalho. O protagonista é um homem comum dominado pelo consumismo e materialismo que impera na sociedade, o que lhe causa insônia.

Um dia, seu médico o recomenda a participar de uma terapia de grupo para homens com câncer de testículo, a fim de conhecer o verdadeiro sofrimento.

Nesses grupos, ele conhece Marla Singer, uma mulher que também frequenta as conferências sem estar doente. Durante uma das sessões terapêuticas, eles têm um confronto que os leva a tentar não coincidir nos mesmos encontros.

Muito rapidamente, o protagonista também conhece Tyler Durden, um trabalhador negro, com quem passa a dividir um apartamento depois que sua casa é tomada pelas chamas após uma explosão. No apartamento, ela reencontra Marla Singer, que está tendo um caso com Tyler Durden.

Criação do clube da luta e suas regras

Após uma discussão com Marla Singer, Tyler Durden pede ao protagonista para “bater forte nele”. Assim nasceu um novo e muito particular grupo terapêutico clandestino denominado “Clube da luta”. Jovens funcionários, insatisfeitos com suas vidas, se reúnem todas as noites para brigar. Este grupo tem um conjunto de regras que todos os membros devem seguir:

  • Ninguém fala sobre o clube da luta.
  • Nenhum dos membros fala sobre o clube da luta.
  • Se um dos participantes gritar “pare”, a luta termina imediatamente.
  • Deve haver apenas dois homens por luta.
  • Uma luta de cada vez.
  • Lute sem camisa e descalço.
  • As lutas duram o tempo que for preciso.
  • Se é a primeira noite de um membro no clube, eles têm que brigar.

Este grupo também serve a Tyler Durden para combater o consumismo e divulgar seus ideais entre os membros. Gradualmente, o grupo se espalhou para diferentes partes dos Estados Unidos.

Mais tarde, Tyler Durden cria um grupo paralelo, com membros do clube da luta, que visa acabar com a civilização moderna, denominado “Project Mayhem”.

O narrador participa desse grupo, mas, não satisfeito com o comportamento de Tyler Durden, tenta detê-lo.

Dupla personalidade

Nesse ponto da trama, descobrimos que o narrador e Tyler Durden são na verdade a mesma pessoa. O protagonista sofre de transtorno dissociativo de identidade. É uma cisão na personalidade do personagem principal que ocorre em decorrência da vida infeliz e insatisfeita do protagonista em sua obra, o que lhe causa insônia.

Mais tarde, o personagem principal tenta impedir Tyler Durden de explodir diferentes edifícios usando explosivos. No telhado de um dos prédios, o narrador confronta seu alter ego e consegue matá-lo.

O narrador então espera que os explosivos feitos por Tyler Durden explodam o prédio e, portanto, a si mesmo. No entanto, isso nunca acontece porque as bombas nunca explodem. Assim, o protagonista decide pegar a arma que Tyler Durden carregava e tenta se matar.

Finalmente, o narrador acorda em um hospital psiquiátrico, de onde os membros do “Project Mayhem” continuam seus planos de mudar o mundo e desejam que Tyler Durden volte.

Análise do livro

Narrador em primeira pessoa, linguagem direta com frases simples e coerentes. E, ao fundo, uma história que esconde uma profunda crítica à sociedade de consumo e à vulnerabilidade do ser humano numa civilização que privilegia o materialismo como filosofia de vida.

Estes são os ingredientes que Chuck Palahniuk usou para escrever um romance que tenta apresentar o mundo em que vivemos, quais são as nossas relações com os outros e, acima de tudo, para onde vamos.

Será que reduzimos a felicidade a nada? As empresas tentam estimular o consumidor a mudar de produto a cada estação: roupas, celulares, carros. Basta um bom slogan e um sorriso da celebridade do momento para dar a entender que, ao comprar determinado produto, a felicidade está garantida.

O personagem principal, que não precisa ser apresentado por um nome específico, pode ser qualquer dissidente, escravo de sua própria rotina e cujos problemas não o deixam dormir. O narrador passa a representar um dos principais dilemas da sociedade consumista, qual seja, que, como muitos, acredita que a aquisição de bens materiais está diretamente ligada à obtenção da felicidade.

Você compra um móvel e diz para si mesmo: “Este é o último sofá que vou precisar na minha vida”. Você compra o sofá e por alguns anos fica satisfeito, porque mesmo que nem tudo corra bem, pelo menos conseguiu resolver o problema do sofá. Então os pratos certos. Então a cama perfeita. Cortinas. O tapete.

Eventualmente, você se encontra preso em seu ninho, e os itens que você possuía agora são seus.

Uma das ideias que o autor tenta oferecer a seus leitores pode ser explicada pelo conceito de “adaptação hedônica”. Em geral, tendemos a pensar que depois de adquirir um objeto desejado, seremos totalmente felizes para sempre.

Porém, como acontece com o protagonista do romance, esse estado de alegria proporcionado pela aquisição de tal produto é efêmero. Ele desaparece assim que nos acostumamos e automaticamente assumimos que outro “objetivo” nos deixará mais felizes do que o anterior.

Se você não sabe o que quer (…) acaba ficando com um monte de coisas que não precisa.

Adaptação hedônica explica a capacidade das pessoas de se acostumarem com uma situação, seja ela positiva ou negativa, e retornarem ao estado emocional anterior.

No final da década de 1990, o psicólogo Michael Eysenck explicou esse conceito com sua teoria da “esteira hedônica”. Ele compara o comportamento das pessoas ao de um hamster andando sobre uma roda. Porque, assim como o roedor, os indivíduos tendem a ir para o mesmo lugar sem atingir o objetivo da felicidade duradoura. Isso leva a um estado constante de insatisfação.

Será que um dia entenderemos que o importante não é atingir uma meta, mas aproveitar a jornada?

Tyler Durden como o antagonista do sistema de consumo.

Como acontece com o narrador desta história, há momentos em que os problemas rotineiros nos invadem e acreditamos que não têm solução.

Então, o personagem de Tyler Durden surge como o principal antagonista da cultura consumista e como o alter ego do protagonista. Ele é uma projeção do personagem que emana do desespero e do estresse.

Pode-se até interpretá-lo como um produto do subconsciente do personagem principal. Essa é a parte que gostaria de quebrar tudo para começar do zero.

Antes de “conhecer” Tyler Durden, o personagem principal decide frequentar grupos de apoio para combater sua insônia. Sobre assistir a essas sessões, ele diz:

  • É por isso que eu gosto tanto dos grupos de apoio, porque as pessoas, quando acham que você está morrendo, te dão toda a atenção.

Somos muitos, mas estamos completamente sozinhos. Vivemos em uma sociedade onde ouvimos muito, mas ouvimos muito pouco. Estamos desamparados em um mundo cada vez mais globalizado, no qual damos cada vez menos importância aos relacionamentos.

Nós dialogamos, dizemos ao nosso interlocutor o que fazer e como fazer, e até o informamos sobre seus erros o tempo todo. Em uma conversa, muitas vezes simplesmente esperamos nossa vez de falar, pensando no que dizer em resposta. Mas e a escuta empática?

Assim como o protagonista, muitas pessoas se sentem incompreendidas e isso as faz preferir viver isoladas da sociedade.

Quando Tyler Durden aparece na vida do protagonista, nasce o grupo secreto onde um grupo de homens, oprimidos por seus problemas pessoais, que se unem para lutar. Assim, neste romance, a violência é justificada como a única saída emocional em um mundo onde o poder e a riqueza são a base do sucesso.

Eles usam a força para atingir um fim. A maioria deles está no clube da luta “por causa de algo que eles têm medo de lutar”. Alguns desses homens são, de dia, advogados ou executivos que, graças a essas lutas noturnas, conseguem diminuir o medo e seguir em frente.

Projeto Mayhem: Autodestruição como salvação

A certa altura, Tyler Durden não se contenta com o clube da luta para justificar a luta contra o consumismo. É por isso que ele cria o “Projeto Mayhem”, cujo objetivo é “a destruição completa e imediata da civilização”.

Mas ele não apenas propõe um ataque à sociedade de consumo, mas também fala em autodestruição.

Tyler me diz que ainda estou longe do fundo e que, se não descer até o fundo, não serei salvo. Jesus fez o mesmo com o relato de sua crucificação. Não tenho apenas que abrir mão de dinheiro, bens e conhecimento. Não é apenas uma escapada de fim de semana. Eu deveria parar de tentar melhorar a mim mesmo e fazer qualquer coisa. Não posso mais jogar pelo seguro.

É a forma do alter ego do narrador dizer “basta”. Ele sugere que diminua o ritmo e “chegue ao fundo do poço”, pois só assim entenderá o que realmente vale a pena.

A autodestruição pode ser uma forma exagerada de aprender, mas se o autor nos ensina alguma coisa com essas palavras é a não desistir diante das adversidades. O segredo pode não estar em atingir a perfeição sem errar, mas sim em tirar nossas falhas como lição e transformá-las em lições de crescimento.

Personagens principais

Narrador: Seu nome não aparece. Ele é um homem que vive preso à rotina, trabalhando como agrimensor em uma oficina de automóveis. A insônia o leva a fazer terapia de grupo enquanto finge ter câncer. Sua vida vira de cabeça para baixo quando ele conhece Tyler Durden e Marla Singer.

Tyler Durden: Ele é o fundador do clube da luta e mais tarde “Project Mayhem”. Ele luta contra a sociedade de consumo. Mais tarde, descobre-se que ele é produto do distúrbio do narrador. Tyler Durden é a personalidade alternativa do protagonista. Ele é apresentado como um homem negro que exerce, entre outras coisas, os ofícios de saboeiro, projecionista e garçom.

Marla Singer: Ela é uma mulher que, como o narrador, está em terapia de grupo. Durante um desses encontros, ela discute com o protagonista e tenta não encontrá-lo novamente. Mais tarde, suas vidas se cruzam novamente quando ela começa um relacionamento com Tyler Durden.

Por que ler Clube da Luta?

Você provavelmente já ouviu falar do Fight Club, seja através do romance ou da adaptação cinematográfica de David Fincher, que era muito popular na época. Ambas as versões merecem sua atenção, mas principalmente a obra literária. Aqui estão os motivos:

É uma prosa com uma linguagem minimalista que define perfeitamente o princípio “menos é mais”. Possui uma narração curta e ágil que facilita a leitura desde a primeira página.

Porque é um romance eterno. Mais de vinte anos depois de sua publicação, as questões que surgem ao lê-lo são as mesmas de então.

É um romance que nos faz rir, pensar e, embora pareça superficial, esconde uma profunda filosofia que nos faz questionar sobre o nosso lugar na sociedade.

Biografia de Chuck Palahniuk

Ele é um romancista americano de ascendência europeia. Ele se formou em jornalismo na Universidade de Oregon e mais tarde trabalhou como editor em um jornal local. Mais tarde, ele também ganhou a vida como mecânico até que sua carreira de escritor florescesse.

Na casa dos trinta, participou de oficinas de redação ministradas pelo escritor Tom Spanbauer. Isso o encorajou a escrever seu primeiro livro, Insônia: se você morasse aqui, já estaria em casa, que ele deixou em uma gaveta e nunca publicou. Após o fracasso de outra segunda história, Invisible Monsters, o escritor escreveu Fight Club em 1996, obra que lançou sua carreira.

Em 1999, o diretor David Fincher fez uma adaptação cinematográfica do romance Fight Club.

Edward Norton e Brad Pitt interpretam o narrador e Tyler Durder, respectivamente.

A adaptação de 139 minutos é bastante fiel ao romance, embora apresente algumas mudanças significativas, desde como os personagens se encontram, variando algumas cenas e alterando o final.

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