O Velho e o Mar de Ernest Hemingway
Cento e trinta e cinco páginas. Isso é tudo que Ernest Hemingway precisa para escrever uma obra-prima.
O último romance que ele publicou durante sua vida. Este conto de estilo lapidar, de sintaxe elementar, sem embelezamento nem linguagem erudita, tem a imagem de Santiago, o velho pescador que vai travar no mar uma batalha de singela mas singular beleza.
Assim, o velho está aos olhos de todos “deserto pela sorte”, voltando cada vez ao porto com as redes vazias.
Apenas um menino chamado Manolin, um amigo fiel e atencioso, ainda acredita na experiência e na fortuna do velho.
Ele o ajuda até a manhã em que o velho zarpa, determinado a finalmente conter o azar que persiste.
O que espera o velho é nada mais nada menos que um duelo sem fim e memorável contra este grande peixe que ele consegue atacar.
Mas para além desta luta entre o homem e o animal, é a solidão humana perante a cruel imensidão da natureza que Hemingway nos descreve.
Somos tentados a ver nesta história uma espécie de fábula metafísica, quase uma parábola bíblica.
A metafísica é o conhecimento ou a compreensão do mundo, das coisas e processos além do mundo sensível, portanto além do que é acessível aos nossos sentidos.
Paradoxalmente, toda a história é carregada pelo que o velho percebe com seu corpo e sente em sua carne.
Não é nem mesmo uma questão de emoções, mas de percepção crua, quando ele corta a mão, quando a madeira do barco entra em suas costas, quando a exaustão o leva ao limite.
Há também aquelas palavras ditas pelo velho, frases simples formuladas para si ou para a imensidão muda, às vezes desejos ou arrependimentos, uma franqueza comovente quando fala com a própria mão ou com os grandes peixes, ao tocá-los.
Mas uma franqueza imbuída de deferência porque se trata de uma verdadeira epopeia heróica que se desenrola, onde o herói ora é o peixe, ora é o homem.
Mas talvez nenhum deles esteja destinado a vencer e existem forças destrutivas além de seus simples destinos contra as quais nada pode ser feito…
Apesar deste terrível destino, o que talvez seja preciso lembrar da história é esta magnífica frase: